Não gosto de Bukowsky.
Nem de suas putas, das bebedeiras, das sarjetas e da feiura.
Bukowsky abusava do direito de ser feio. E tinha cara de quem não gosta de banho.
Seus contos e poemas não me agradam. São crus, fedidos, falidos. Mas me impulsionaram a escrever com raiva o que sinto, movida pelo momento escatológico por que passa o Sistema que, de tão podre, fede.
Sinto raiva, estou de saco cheio, então escrevi com o fígado.
É, Bukowsky me inspirou. E como sou livre, posso escrever aqui, no meu espaço, o que eu quiser. Palavrões, descrença, desamor, frustração. E em forma de poemas talvez minimalistas. E não têm nome. Pra quê?
Talvez eu esteja numa fase maldita. Mas ela é minha, ok?
Quem quiser que aguente ou caia fora.
Só tem um detalhe: eu não preciso de álcool para nada. Não bebo. Sou careta. Enfrento a vida, de cara limpa.
1-
Tenho cicatrizes
De um amor mal vivido.
Então não se aproxime muito.
Posso agir como as meretrizes.
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2 -
Alguém me disse
vá se foder.
Agradeci.
E liguei pra ele.
Nos fodemos logo aqui, lá e ali.
De tanto foder
quase morri.
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3 -
Vox Populi
Vox Dei?
Dane-se.
Fiquei surda
depois que escutei.
.
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4-
Loucos são surpreendentes.
Talvez por isto, tão atraentes.
Mas a loucura é contagiosa
e descobrimos o inferno
no paraíso
de seus
viciantes corpos quentes.
Vá! Não, não vá
dizemos a todo instante
numa raiva apaixonada
pois ficamos dementes.
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5 -
A chuva choveu
um montão assim.
Eu chovi também ― ele encostou em mim.
A rua ficou alagada
não foi a chuva
foi ele.
E eu, toda molhada.
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6 -
Deus trabalhou sete dias
depois não fez nada.
O diabo trabalha até hoje,
lidou até com Fausto.
Coitado, deve estar exausto.
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7 -
É Papai Noel.
Basta olhar e se percebe
pelo tamanho do saco.
Presente? Nenhum.
Deve ser hidrocele.
Bolas enormes
mal sustentadas
pela enrugada pele.
Vi tudo
quando ele mijou no muro.
Por cima das bolas
um natalino pau duro.
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